quarta-feira, 30 de abril de 2008

Seus cabelos cacheados

A mãe virou-se lentamente com um suspiro. Era final de tarde e Olavo, apoiado na porta, olhava-a cochilando no sofá. Não conseguia desgrudar os olhos daquela mulher de pele clara e corpo esbelto, com cachos negros caídos nos olhos, aquela mulher que era só sua, de mais ninguém.
Acordou como de um sonho profundo quando ouviu o barulho da garagem. Susto. Escondeu-se ao lado do sofá e com raiva viu seu pai passar pela sala e dar um beijo sincero em sua mãe. Nojo. Quem ele pensava que era? Sempre viajava e achava que podia voltar assim e roubar a mulher que era dele?
Com um rugido chamou a atenção do pai, que se virou erguendo os braços para ele. Olavo, com seuas pernas miúdas de criança, correu para o mais longe possível, sem conseguir esconder seu ciúme, com as faces rubras e febris.
Viu-se sem querer na frente do espelho da penteadeira da mãe, apreciando seu rosto suado e vermelho de quem havia corrido por horas. Olhous para baixo, viu a caixa de maquiagens. Estava confuso - preferiu abri-la. Sabia de cor a ordem de cada instrumento mágico daquela caixinha. Onde está...? Pegou o rímel e passou de leve, sua mãe dissera que realçava o olhar.
Durante tempos foi assim - o pai viajava e quando voltava, Olavo corria para longe, sempre longe. E, então, foi seu primeiro dia de aula da 1a série. Seu ano foi repleto de novidades, mas nada importante o bastante para lhe tirar o olhar e atenção daquele menino de cachos loiros e reluzentes sentado no fundo da sala.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Adeus, Amor

As folhas caem daquela imensa árvore. O outono chegara. Tão rápido! Parecia ver naquelas folhas nada, mas tristeza. Estava na hora, não se podia refletir mais, não havia tempo. Não poderia mais passar o tempo vendo o tempo passar. Tinha algo a fazer.
Havia sido uma semana e tanto. Nada a concentrava no trabalho, só pensava na sua partida de volta indefinida. Se é que haveria volta. Quanto mais valia o amor? Mas o que é o amor? Tudo a confundia, tudo era muito abstrato, até mesmo suas próprias lágrimas. Caminhava pela rua e avistou uma revistaria. Comprou um jornal, haveria de saber como estava o mundo em que ia se largar em poucas horas.
Ela lia em silêncio. "Mortes em acidente aéreo", "Presidente tenta reeileção", "Atentado em Londres". Caos. Povo. Dinheiro. Assalto. Assassinato. Perigo. Morte. Vida. Amor. Escuridão. Solidão. Decisão. Adeus!
Fechou o jornal. Olhou ao relógio: 13 pm. "Ele já deve ter chegado em casa", pensou consigo. Foi então tomando seu primeiro destino do dia, o começo de uma longa jornada. Era a hora. Iria para casa e daria o último beijo com seus lábios sussurrando "Adeus". Andaria até o aeroporto e entraria no avião com destino à Inglaterra, sem previsão de volta. Lembraria-se então de todos os seus momentos juntos. E ela deixaria aquele apego aos seus olhos e ele os dela. Sophie então parou: estava no portão de seu prédio. O prédio deles.
Abriu a porta. As coisas iam aparecendo aos poucos...Aquela casa tão familiar.
"Amor?"
Ela se virou. Daniel a olhava empolgado e com um abraço sussurrou aquela frase em seu ouvido:
"Estava com saudade de você"
"Eu...preciso ir", Sophie sentiu-se tonta. Era o momento da grande mentira.
"Embora? Mas foi algo que eu fiz? Eu estou tão apaixonado por vocÊ", ele tentou tocá-la, ela recusou.
"Mas eu...não devo. Deixe-me ir!"
Vá embora para que essa tortura se acabe, Sophie! Ela correu para fora do apartamento como se estivesse fugindo daqueles olhares acusadores que a perseguiam. Havia quase jurado a si mesma que não se apaixonaria nunca - seu medo era maior do que qualquer amor. E se o perdesse? Não suportaria. Via-se sussurrando aquelas mesmas palavras por mais de quatro vezes, e gostava tanto de todas elas! Era sempre um alívio se sentir mais só, e não dependente de qualquer que fosse. Ela conhecia-os bem, gostava de todos eles. E quando desaparecia no mundo, sempre procurava outra pessoa, outra paixão. Esse ciclo a enfeitiçava. O ciclo do Adeus. Adeus para uma vida solitária.
Olhou para o lado, estava sentada nas escadas do prédio. Nem sabia como havia parado lá.
Medo. Amor. Beijo. Café. Almoço. Jantar. Risadas. Abraço. Ombro. Lábios. Sexo. Carinho. Toque. Olhar. Dedos. Mão. Dança. Suspiros. Música. Cinema. Teatro. Conversa. Mais risadas. Mais beijos. Mais amor. Um só adeus. E tudo viraria nada.
Sentiu-se sozinha. Tudo que vinha em sua mente era a imagem de Daniel, que era por si diferente de todos os outros. Ou era ela que havia mudado? De que importava! Era mesmo o que queria?
"É mesmo o que você quer?", ouviu a voz de Daniel ecoar pelo corredor.
Sophie virou-se. Sem mais uma palavra, uniu seus lábios aos dele, ardentes e pedindo conforto. O medo se foi. Restou apenas Amor.
Ela o olhou como se fosse a primeira vez. Foi quando viu que o brilho de seus olhos não desaparecera. Nem os dela.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Mamãe, me leva para o cinema?

Olhamos só isso.
Meu vício cinematográfico anda em greve...Ops, não o vício, o cinema!
Me lembrei agora que tenho 3 vídeos com as gravações do Globo de Ouro e Oscar desde 2004. (perdi a entrega do oscar à Nicole Kidman, EU SEI!)
Hoje em dia já perdi o brilho nos olhos de ver esses festivais, era um hobby em tanto.
Mas a banalização do cinema foi surgindo acompanhada do aumento do chamado marketing.
A magia do cinema, de transcrever histórias que dissessem alguma coisa e fizessem sentido para mim, perdeu seu encanto por um momento.
Mas não. Logicamente, se sobressairam filmes não-americanizados, de índole artística e não marketeira, que me conquistaram de novo à esse mundo do imaginário.
A questão não é analisar meu interesse ou não pelo cinema ou ao menos pelos festivais...E sim tratar do assunto que é essa greve dos roteiristas americanos, se chamam eles de United Hollywood.
Daqui a pouco nem mais vão poder dizer: "Mamãe, me leva pro cinema?" ou "Vamos alugar um filme?", preferivelmente será questão de sentar, ligar o computador e teclar algumas coisas.
O que me dói tanto, mas é a "lei tecnológica do ser humano", não há o que fazer.
E essa greve dos roteiristas teme a não valorização do seus trabalhos futuramente, contando que eles não recebem absolutamente nada pelos downloads por internet.
É engraçado. Eu queria retomar a minha frustração com o cinema americano vendo o Globo de Ouro e uns dos meus atores preferidos recebendo algum prêmio, por mais que comprado! Mas cinema que é cinema não é isso, todos estão carecas de saber. Quem sabe algum dia o oscar vem a ser um festival democrático e com rico critério artístico...
Acho que vou ter que esperar o ano que vem, e quem sabe não o verei na internet?

http://www.youtube.com/watch?v=oJ55Ir2jCxk

United Hollywood