quarta-feira, 30 de abril de 2008

Seus cabelos cacheados

A mãe virou-se lentamente com um suspiro. Era final de tarde e Olavo, apoiado na porta, olhava-a cochilando no sofá. Não conseguia desgrudar os olhos daquela mulher de pele clara e corpo esbelto, com cachos negros caídos nos olhos, aquela mulher que era só sua, de mais ninguém.
Acordou como de um sonho profundo quando ouviu o barulho da garagem. Susto. Escondeu-se ao lado do sofá e com raiva viu seu pai passar pela sala e dar um beijo sincero em sua mãe. Nojo. Quem ele pensava que era? Sempre viajava e achava que podia voltar assim e roubar a mulher que era dele?
Com um rugido chamou a atenção do pai, que se virou erguendo os braços para ele. Olavo, com seuas pernas miúdas de criança, correu para o mais longe possível, sem conseguir esconder seu ciúme, com as faces rubras e febris.
Viu-se sem querer na frente do espelho da penteadeira da mãe, apreciando seu rosto suado e vermelho de quem havia corrido por horas. Olhous para baixo, viu a caixa de maquiagens. Estava confuso - preferiu abri-la. Sabia de cor a ordem de cada instrumento mágico daquela caixinha. Onde está...? Pegou o rímel e passou de leve, sua mãe dissera que realçava o olhar.
Durante tempos foi assim - o pai viajava e quando voltava, Olavo corria para longe, sempre longe. E, então, foi seu primeiro dia de aula da 1a série. Seu ano foi repleto de novidades, mas nada importante o bastante para lhe tirar o olhar e atenção daquele menino de cachos loiros e reluzentes sentado no fundo da sala.

2 comentários:

Anônimo disse...

é muito estranho reparar nessa relação meio doentia, mas normal ao mesmo tempo.
e o final foi ultra inesperado para mim!

eu acho que tah ótimo!
(para o jornal também)

Chico disse...

cadê julia?